domingo, 23 de outubro de 2011

ESPIRITUALIDADE NA ENFERMAGEM


No dia-a-dia do Enfermeiro ocorrem várias situações durante o seu plantão.
As informações chegam trazendo mais ou menos o ‘balanço geral’ de como poderá ser o seu dia de trabalho. Por exemplo: é o recebimento do plantão, são as atribuições administrativas, é a sobrecarga de atividades, é a sua presença diante da equipe, é a falta de tempo para respirar numa carga horária de trabalho injusta, etc.
Ir ao banheiro..., nem pensar! Não é fácil.

Mas acima de tudo, está o Compromisso firmado com Aquele que o aguarda, e espera a Visita de Enfermagem, onde novas Condutas são tomadas garantindo assim a segurança de sua assistência.
É o momento em que o Cliente aproveita para falar, reclamar, tirar dúvidas que não foram devidamente esclarecidas ou mesmo por dificuldade de compreensão.
É a hora do desabafo, do choro, do silêncio, do elogio ao Auxiliar ou Técnico de Enfermagem devido a tanta dedicação.
É a hora da Dor...

São alterações psicológicas que surgem de imediato, alertando que o melhor a fazer de início é Ouvir. Não escutar, mas Ouvir.
Além do estado físico debilitado, temos também o estado emocional ou espiritual afetado.
Em alguns casos, chegamos até nos surpreender com clientes que aparentemente encontram-se em condições graves, mas que reagem de forma positiva através do seu estado de humor. Enquanto que outros não tão graves, mas que se deprimem de forma exacerbada.
Com isso, queremos refletir sobre três Diagnósticos de Enfermagem que estão intimamente ligados a esta realidade: a Disposição para Bem-estar Espiritual Aumentado; Risco de Sofrimento Espiritual e Sofrimento Espiritual. Para isso, precisamos relembrar seus conceitos:

1. DISPOSIÇÃO PARA BEM-ESTAR ESPIRITUAL AUMENTADO (00068).

Definição: Capacidade de experimentar e integrar significado e objetivo à vida através de conexão consigo mesmo, com outros, arte, música, literatura, natureza ou com “um Ser maior”.

Características Definidoras:

Relacionada às Artes: demonstração de energia criativa (escrever, fazer poesias, cantar, ouvir músicas, passar tempo ao ar livre).

Relacionada com outros: capacidade de pedir perdão; necessidade de integrar-se com líderes espirituais, necessidade de integrar-se com pessoas significativas, prestar serviços a outros.

Relacionada consigo mesmo: desejo de aumentar à alegria, a aceitação, a coragem, o amor...

Relacionado ao Ser maior: expressa reverência, sente maravilhado, atividades religiosas, relata experiência mística, reza ou ora.

2. RISCO DE SOFRIMENTO ESPIRITUAL (00067).

Definição: Risco de apresentar ‘prejuízo’ em sua capacidade de experimentar e integrar significado e objetivo à vida por meio de uma conexão consigo mesmo, com outros, arte, música, literatura, natureza ou um Ser maior.

Fatores de Risco:

Ambientais: desastres naturais, mudança no meio ambiente.

Desenvolvimentais: mudanças na vida.

Físicos: abuso de substância, doença crônica, doença física.

Psicossociais: ansiedade, baixa autoestima, bloqueios para experimentar o amor, conflito cultural, conflito racial, depressão, estresse, incapacidade de perdoar, mudança na prática religiosa, perda, relacionamentos insatisfeitos, separação de sistema de apoio.

3. SOFRIMENTO ESPIRITUAL (00066).

Definição: ‘Capacidade prejudicada de expressar e integrar significado e objetivo à vida’ por meio de uma conexão consigo mesmo, com outros, arte, música, literatura, natureza ou um Ser maior.

Características definidoras: incapacidade de expressar estado de criatividade, não se interessa pela natureza, ou literatura. Recusasse integrar-se com pessoas significativas, ou contato com líderes religiosos, expressa alienação, verbaliza estar separado do seu sistema de apoio, é incapaz de rezar ou orar, expressa desesperança, expressa raiva de Deus, possui sentimentos de culpa, falta de aceitação, autoperdão, falta de coragem, falta de esperança, falta de objetivo e significado na vida, raiva.

Refletindo sobre estes Diagnósticos, podemos admitir que o “Fator Espiritualidade”, tem um importante papel na recuperação da saúde física e mental. E que o cliente pode passar pelo processo de Disposição melhorada para o Estado Espiritual, Risco de sofrimento espiritual e Sofrimento espiritual, onde há uma ligação entre sua capacidade de interagir consigo mesmo, com outros, e com um Ser maior – Deus.

E o que fazer diante de uma situação que retrate estes diagnósticos apresentados? Propomos que usemos de nossa Sensibilidade para iniciarmos uma intervenção objetiva, científica, e delicada, respeitando os limites que serão ultrapassados à medida que realizamos a abordagem.

A Sensibilidade do Enfermeiro é uma ferramenta fundamental, para estimular a melhora deste paciente. Sabemos que tudo é muito corrido para nós, mas mesmo assim, precisamos PARAR e OUVIR, e nos colocar no lugar deste e sentirmos nem que seja ‘um pouquinho’ aquilo que ele quer nos transmitir. Quantas vezes temos a oportunidade de presenciar reações semelhantes a estes diagnósticos, e dependendo da situação, passamos ‘batidos’ sem dá o devido valor a estas expressões que “gritam” através das linguagens verbal e corporal.

Precisamos lembrar que a Disposição para o Bem-Estar Espiritual Melhorado, o Risco de Sofrimento Espiritual e o Sofrimento Espiritual é uma realidade e está intimamente ligado na interação do paciente consigo mesmo, com o meio ou outros, e com um Ser maior, e que nós Profissionais de Enfermagem devemos nos preparar para promover a diminuição deste sofrimento e o aumento do seu Bem-Estar Espiritual.

Um grande abraço!

Cristiano Vinicius Barbosa.
ENFERMEIRO
COREN/SP: 203624.

Referencia Bibliográfica:

1. Diagnósticos de Enfermagem da NANDA: definições e classificação 2009 – 2011/ NANDA International; tradução Regina Machado Garcez. – Porto Alegre: Artmed, 2010.